Aumentar a produtividade se transformou em uma meta para muita gente, inclusive para quem pratica a criatividade.
Para quem trabalha em empresas, ser mais produtivo virou sinônimo de mérito e sucesso profissional. Para quem está numa jornada empreendedora, a ideia de trabalhar está muito associada à motivação e à prosperidade nos negócios.
Nessa busca incessante por eficiência, muitas vezes vivemos um dilema: como ter mais produtividade sem deixar de lado o cuidado com a nossa saúde mental? De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por ano em razão de doenças como a depressão e a ansiedade.
Estar totalmente disponível, gastar muita energia para fazer suas tarefas e focar em metas irrealizáveis ou fora do seu contexto podem ser algumas das razões pelas quais o aumento da produtividade está cada vez mais colado em picos de stress e ansiedade.
Neste artigo, explico como você pode se organizar internamente para ser mais produtivo sem pirar. Isso inclui algumas estratégias práticas e realistas para encontrar um equilíbrio entre o aumento da sua produtividade e o seu bem-estar emocional.
O que é essa tal produtividade?
Antes de tudo, vou te dizer que meu conceito de produtividade NÃO envolve acordar às 4h da manhã, ler 700 livros, correr 3 maratonas e fundar 7 start-ups antes das 10h da manhã, tudo bem? 😊
Brincadeiras à parte, quero falar desse conceito com um olhar mais personalizado e empático – afinal, produtividade não é uma fórmula mágica e universal que pode ser aplicada por todo mundo do mesmo jeito.
Basta pensar que os objetivos profissionais de uma pessoa podem não fazer muito sentido para outra e que as atividades que mais podem drenar a minha energia, por exemplo, podem ser feitas tranquilamente por outras pessoas.
Refletir sobre a própria produtividade é um processo que envolve muito autoconhecimento e muita empatia. Para entender como trabalhar melhor – com mais foco e menos desgaste de energia – é importante conhecer e respeitar o próprio ritmo.
Se eu fosse resumir a produtividade, diria que é um sistema pessoal que cada pessoa desenvolve para gerenciar seu tempo e energia. Isso se aplica tanto ao curto prazo como ao longo prazo e pode abranger desde tarefas pequenas e rápidas até planos mais profundos e complexos.
Também acho importante ressaltar que a produtividade pode estar ligada às diferentes áreas da nossa vida – seja no campo profissional, nos relacionamentos, na saúde ou em outras esferas.
Entender que nem sempre esse sistema interno vai dar conta de tudo ao mesmo tempo, aceitar que altos e baixos simplesmente acontecem e desmistificar a ideia de que todas as áreas da nossa vida estarão sempre equilibradas e produtivas é um ótimo caminho para ajustar expectativas e evitar frustrações.
Mesmo que a gestão da produtividade seja um processo totalmente individual, é possível descobrir ferramentas, possibilidades e técnicas que podem ser aplicadas por todo mundo. Mas para isso é importante entender quais delas fluem melhor para você, em que ocasiões elas podem ser usadas e em quais momentos elas fazem mais sentido.
Como ser mais produtivo (e com saúde mental)
A produtividade está bastante ligada à priorização para definir como usar o nosso tempo, já que isso pode nos ajudar a canalizar nossa energia para finalizar tarefas e projetos que mais importam.
Uma sugestão simples nesse sentido é distribuir seu tempo e atenção para o menor número possível de projetos. Parece loucura, né? Mas o que eu quero reforçar aqui é que muitas vezes buscamos soluções práticas para dar conta de muitas demandas – seja baixando aplicativos para organizar listas de tarefas, seja recorrendo a métodos famosos, como o Pomodoro – quando muitas vezes a pergunta correta está um passo atrás:
Será que todos esses projetos (de onde sai essa infinidade de tarefas) têm a ver com os meus objetivos de vida? Se sim, será que todos precisam ser feitos nesse momento, ou preciso praticar a paciência, esperar e começar o próximo em breve? Será que estou aceitando mais trabalho do que posso organizar no meu sistema interno?
Como quase sempre estamos trabalhando no piloto automático, muitas vezes não refletimos sobre isso, nem nos atentamos corretamente ao tempo investido nas nossas atividades. Essa mudança de pensamento – do micro para o macro – pode ser bastante útil para recalcular a rota e definir prioridades.
Eu sei que essa mudança pode ser desafiadora, porque envolve dizer “não” quando o nosso hábito é responder “sim”, mas é uma iniciativa que protege as ideias que são mais relevantes e que mais nos beneficiaria se tirarmos do papel agora 🙂
E por falar em paciência, essa é uma qualidade bem importante quando estamos trabalhando para aumentar a produtividade com foco na saúde mental.
Tenha em mente que é natural que no nosso planejamento aconteçam coisas fora do nosso controle, seja em relação ao volume de trabalho, imprevistos ou até situações pessoais que interferem diretamente no nosso bem-estar ou na capacidade produtiva.
Posso dar como exemplo o meu compromisso em praticar atividades físicas três vezes por semana (o que, aliás, também impacta positivamente na saúde mental <3). Em alguns períodos do ano, notei que o volume de trabalho bagunçou minha rotina e nem sempre eu consegui manter esse compromisso.
Por me conhecer e entender como aquele fluxo estava diferente da minha rotina, foi importante ter uma dose de paciência para aceitar que os exercícios físicos seriam menos constantes naquele período, mas depois eu poderia recuperar o ritmo naturalmente.
No vídeo abaixo, eu falo mais sobre esse e outros mitos contados sobre alcançar a produtividade e a ideia utópica da rotina perfeita:
Entenda seus blocos de energia
Cada pessoa tem um funcionamento único e, consequentemente, faz a sua gestão de tempo e energia de maneira diferente. Para refletir sobre a produtividade de um jeito individual e empático, é importante entender como você funciona e de que maneira você pode ajustar essa dinâmica.
Vamos imaginar que cada pessoa tem uma quantidade de energia ao longo do dia, que podemos representar com pequenos bloquinhos de LEGO.
Algumas pessoas gastam mais bloquinhos de energia em uma atividade do que outras pessoas e o que determina como esses bloquinhos demandam energia pode ter a ver desde com características individuais até com os objetivos de vida.
Por exemplo: fazer uma reunião com 15 pessoas pode representar muitos bloquinhos de LEGO para uma pessoa introvertida, enquanto alguém mais extrovertido tem um gasto energético menor (ou, se bobear, até sair com a sensação de estar mais energizado).
Outro exemplo: se você está querendo mudar de emprego, buscar oportunidades no LinkedIn e estudar sobre dinâmicas de seleção serão atividades prioritárias no seu planejamento e que podem consumir muitos bloquinhos de energia no seu dia.
Refletir sobre suas demandas de energia como se fossem pecinhas de LEGO pode ser um bom parâmetro para visualizar como você funciona, o que drena mais ou menos suas energias, mas também para otimizar o uso dessas pecinhas no seu dia a dia 🙂
Esse entendimento vai ser importante para os exercícios que eu explico a seguir.
Mais produtividade e menos stress: 4 estratégias para adotar hoje mesmo
Reuni aqui algumas estratégias para você gerenciar sua produtividade, sempre com foco em respeitar a sua saúde mental:
1) Construa o seu gráfico de atividades diárias
Depois de entender sobre as pecinhas de energia no tópico anterior, você pode fazer um gráfico de tarefas que você realiza no seu dia. Em uma folha, faça uma linha vertical e no primeiro campo escolha as suas tarefas “mais automáticas”: as que gastam menos energia, que se tornaram um hábito.
Checar os e-mails é uma atividade mais automática, enquanto construir um novo projeto é uma atividade que exige mais energia, por exemplo. Assim, este tipo de atividade seria incluída na outra metade da folha, na lista de tarefas “menos automáticas”, enquanto os e-mails ficariam no lado esquerdo da folha.
Como estamos falando de pecinhas, você pode ir além da escrita e representar graficamente – seja com o próprio LEGO, com desenhos, etc – cada uma dessas atividades. Só não esqueça de diferenciar o uso de energia em cada uma delas pelo tamanho ou outro parâmetro: tarefas mais automáticas ocupam “menos espaço” que as menos automáticas.
A partir daí, você pode organizar “as pecinhas” na sua agenda respeitando sua saúde mental, entendendo que atividades que drenam mais energia podem ter um tempo maior de execução, talvez possam ser seguidas de pausas e, quando possível, podem não ser alocadas muito próximas umas das outras.
2) Adeque o seu gráfico de atividades aos seus objetivos
Ainda no gráfico de atividades montado no ponto 1, avalie as tarefas listadas no seu dia a dia de acordo com os seus objetivos de vida. Aqui também vale representar graficamente. Você pode usar uma cor para as tarefas mais alinhadas ao seu objetivo de vida e outra cor para as que estão menos adequadas a esse parâmetro.
Esse mapeamento traz clareza sobre o que precisamos mudar para aumentar a nossa produtividade. Confira outros benefícios desse gráfico aqui:
3) Crie rotinas e hábitos
Seu cérebro gosta de rotina, pois ela faz com que você tenha estrutura inicial, e, com o tempo, comece a produzir melhor e mais rápido. Ainda dentro do gráfico que construímos nos exercícios 1 e 2, tente observar quais atividades ainda não são automatizadas e tente transformá-las em hábitos, para que elas se tornem cada vez mais automáticas e gastem menos energia no seu dia a dia.
4) Explore ideias “inúteis”
Por último, mas não menos importante, quero trazer uma reflexão: em um mundo que tem uma pira tão grande por produtividade e performance, ainda faz sentido “perder tempo” explorando ideias inúteis?
Já falei aqui que os projetos paralelos não precisam ter uma utilidade, mas você sabia que eles também podem potencializar a sua criatividade? Focar em ideias aparentemente inúteis pode contribuir para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, além de melhorar a sua saúde mental.
Isso porque por meio dessas atividades é possível adquirir e refinar habilidades de forma leve, além de nutrir o seu repertório de um jeito divertido 😊
O que você aprendeu até aqui?
A busca incessante pela produtividade é uma meta muito comum nos dias de hoje, mas como alcançá-la sem comprometer nossa saúde mental? Neste artigo, apresentei uma abordagem sobre a produtividade que enfatiza o autoconhecimento e a empatia, sem receitas prontas ou fórmulas mágicas.
Entendo a produtividade como uma gestão de tempo e energia para nossas atividades e que pode ser aplicado para metas de curto e longo prazo, em diferentes áreas da vida.
Listei algumas estratégias práticas para ser produtivo sem pirar, como ter paciência com os próprios processos e refletir sobre a quantidade de projetos com os quais estamos comprometidos. Também expliquei como compreender nossos blocos de energia, estabelecer rotinas e hábitos e até explorar ideias aparentemente “inúteis” para potencializar a nossa criatividade e promover a saúde mental.
Se você quer praticar a sua criatividade sem tirar o foco da sua saúde mental, queria te convidar a conhecer um sistema simples para destravar e praticar a sua criatividade até mesmo nos momentos de trava e bloqueio criativo: