Ócio criativo, descanso ou procrastinação? Aprenda mais sobre os três

Você já teve aqueles momentos em que adia uma tarefa importante para rolar o feed, ou que decide fazer uma atividade criativa que não tem nada a ver com o projeto que você está tocando no momento, ou que resolve simplesmente tirar um tempinho para relaxar? Como classificar essa pausa: ócio criativo? Um descanso? Ou procrastinação?

Refletir sobre a linha tênue entre os três – considerando que estamos falando de processos conscientes – pode ser bastante interessante para potencializar o nosso processo criativo e para melhorar nossa produtividade.

Neste artigo, vamos explorar as diferentes possibilidades de pausa, entendendo como navegar esses momentinhos nas nossas vidas para tentar manter uma relação mais leve com a nossa criação e lidar melhor com o bloqueio criativo.

Espero que ao final do texto, você conheça maneiras de equilibrar sua rotina de criação, enxergue uma nova perspectiva para a procrastinação e descubra de que forma você pode melhorar sua relação com o tempo.

O que é ócio criativo?

Imagine que você terminou de almoçar e tenha um tempinho à disposição antes de voltar ao homeoffice. Em vez de tentar ocupar o tédio com o Pinterest, você decide ficar na varanda (ou na janela) do seu apartamento, para observar o trabalho de uma construção no terreno ao lado.

Você está no presente, mergulhado naquele ambiente, acompanhando as dinâmicas e as relações daquele lugar, sem nenhum objetivo em mente. Até que uma ideia aparece do nada – e ela não é uma simples ideia, mas uma solução para um problema que tem ocupado sua cabeça há semanas. Essa é uma das possibilidades de ócio criativo.

O termo “ócio criativo” foi criado pelo sociólogo italiano Domenico De Masi para descrever um estado mental onde a mente está livre para explorar ideias e conexões não convencionais. É um período de inatividade aparente que, na verdade, pode até acabar sendo produtivo para a criatividade e inovação.

Para o sociólogo, que transformou o mundo do trabalho com esse conceito, o ócio não quer dizer “não fazer nada”, mas pode significar o tempo que cada pessoa dedica a aspectos culturais, relacionais e de entretenimento, seja consumindo ou produzindo conteúdo, sem estar ligado ao seu trabalho convencional.

Os benefícios do ócio criativo podem ser o estímulo à criatividade, mas também o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, além de aumentar a produtividade, respeitando a sua saúde mental.

Muitas pessoas entendem que ócio criativo não é o mesmo que procrastinação. Isso porque, segundo esse entendimento, procrastinar seria a atitude de adiar tarefas importantes em favor de atividades menos relevantes, por preguiça ou até falta de disciplina.

Já no ócio criativo, ainda de acordo com esse entendimento, estaríamos conscientemente permitindo que nossas mentes descansem e divaguem, muitas vezes resultando em insights valiosos e soluções criativas.

Como já expliquei neste artigo, para mim, a procrastinação está muito mais ligada a uma gestão de emoções. Procrastinar pode ser uma reação do nosso cérebro ao ter de lidar com o desconhecido, o nosso perfeccionismo, ou mesmo ao receio de desenvolver tarefas criativas que nunca realizamos antes.

Por isso, a procrastinação tem tudo a ver com a forma pela qual lidamos com as nossas emoções. E ela pode até ser incorporada conscientemente ao nosso processo criativo, como veremos a seguir.

O que é procrastinação agendada?

Esse conceito surgiu a partir de uma discussão na minha comunidade do Telegram, onde compartilho algumas reflexões em áudio. E começou com a seguinte pergunta: se a gente incorpora a procrastinação no nosso processo criativo, deixaria de ser procrastinação?

Para você entender: incorporar a procrastinação no processo criativo seria algo como nos planejar com um tempinho (dentro daquele que você tem para concluir sua tarefa, ou projeto) para procrastinar, já que sabemos que isso tende a acontecer. Ou seja, é um processo consciente de acomodar aquele momento na rotina já que, realisticamente, sabemos que existe essa nossa tendência.

Essa discussão abre para outras perguntas, como: será que não vamos sabotar o tempo da procrastinação agendada, estendendo esse tempinho de tarefas inúteis, já que ele está planejado?

Independentemente dos efeitos dessa procrastinação agendada, é interessante pensar nessa reserva de tempo de uma forma construtiva, avaliando como você se sente em relação a esse planejamento em sua rotina.

Talvez, esse seja um momentinho para que sua mente processe informações, faça conexões e gere novas ideias. Assim, essa pode ser uma ferramenta poderosa para impulsionar nossa criatividade e nosso bem-estar e também se planejar de forma mais realista, já que não existe o hábito acomodar esses momentos (que tendem a fazer parte do nosso dia a dia) no nosso calendário.

Ócio x descanso x procrastinação

Diante dos conceitos de ócio criativo e procrastinação, você pode estar se perguntando: mas, esse momento de pausa, para não pensar em trabalho de forma calculada, também não pode ser classificado como um descanso mental na nossa rotina de criação? Um tempo para relaxar ou até maturar as nossas ações?

Acredito que a classificação pode ser entendida a partir da intenção que você tem ao realizar cada um deles, ou mesmo o sentimento provocado quando você faz essa parada.

Descansar possibilita um estado de repouso, já na procrastinação pode ser que você ainda se sinta conectado àquela tarefa que você está adiando começar. Pode ser que no ócio criativo você intencionalmente sabe que não vou trabalhar em uma atividade, mas ela acaba ficando marinando de forma subconsciente na sua cabeça para ser acessada depois.

Não há uma resposta certa, mas cada uma dessas possibilidades representa um sentimento diferente. Pode ser que algumas pessoas se sintam pressionadas ou culpadas quando procrastinam, mesmo que de forma agendada.

Outras gerenciam essa pausa planejada de uma forma mais tranquila, para voltar com uma cabeça diferente. Nessa parada, pode ser importante deixar algumas coisas acontecerem subconscientemente e dar espaço para novas conexões e novas ideias surgirem.

A forma como essa pausa é realizada também depende muito de pessoa para pessoa. Tem gente que consegue alocar um tempo para procrastinar, de uma forma organizada, outras podem sentir, durante a “fazeção”, a necessidade de realizar essa pausa e incorporá-la no meio do processo.

O mais importante é refletir sobre como você lida com esse tempo de ócio / procrastinação agendada / descanso. Como você pode usar esse momento para simplesmente não pensar no seu projeto atual? E entender que nesses períodos você pode simplesmente experimentar, sem ter necessariamente um controle do resultado 🙂

E depois de concluída a pausa, explore suas emoções. Você pode se perguntar: como você se sentiu naquele tempo? Eu me sinto mais descansado? Esse momento foi fértil para a sua criatividade? Encontrar essas respostas pode dar pistas de como o ócio criativo / a procrastinação agendada / o descanso podem ser incorporados à sua rotina de uma forma mais alinhada com você e suas necessidades.

Como lidar melhor com o tempo

Equilibrar o tempo de criação com outras atividades tem sido um desafio para você? Se você ainda tem dúvidas de como incluir momentos de ócio criativo ou planejar períodos de procrastinação para arejar a sua criatividade, juntei algumas estratégias para você incluir gradualmente esses hábitos na sua rotina:

1) Faça rituais de desconexão digital

Separe um período específico do dia para se desconectar completamente do seu celular e outros dispositivos eletrônicos.

Estabeleça uma duração de tempo e um período da semana em que essa desconexão pode acontecer. Se você quiser, pode até avisar amigos e familiares, para ninguém ficar preocupado. Pode ser uma hora antes de dormir ou durante todos os dias no horário do almoço.

Use esse tempo para se reconectar consigo mesmo e com o mundo ao seu redor sem mediações digitais.

2) Faça passeios sem destino

Dedique um tempo regular para explorar novos lugares sem um trajeto específico. Você pode caminhar sem rumo por ruas desconhecidas, se isso for seguro dentro da sua realidade.

Você também pode se programar para visitar parques tranquilos ou até bairros que você não conhece na sua cidade. O importante é deixar sua mente vagar livremente enquanto absorve novas inspirações. Você pode registrar ou não essa experiência.

3) Tenha momentos de leitura sem pressa

Arranje um tempinho na sua agenda para se perder em um livro (já conhece o meu?). A ideia é escapar de livros que tenham estritamente a ver com o seu trabalho, porque o objetivo é se deixar levar pela história, sem ficar de olho no relógio ou trabalhar enquanto lê. Ler de maneira tranquila e descompromissada pode acender sua imaginação e até despertar ideias fresquinhas!

4) Que tal fazer jogos criativos?

Experimente jogos ou atividades que estimulem a criatividade, como quebra-cabeças, jogos de tabuleiro ou uma atividade manual que você nunca tenha feito antes. Que tal se lembrar de um hobby que você sempre quis aprender, mas nunca teve tempo? Essas atividades lúdicas podem ajudar a relaxar a mente e liberar o fluxo criativo de maneiras inesperadas.

Um bônus: Lembre-se que planejar e respeitar suas pausas pode ser a escolha mais produtiva que você pode fazer. Ao alternar períodos de foco intenso com momentos de relaxamento, você pode aproveitar essas pausas como oportunidade para se reconectar consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.

O tempo é seu aliado, não seu inimigo – e durante esse processo de autoconhecimento você vai entendendo quais são as escolhas e ferramentas que fazem mais (ou menos) sentido para tornar sua rotina mais criativa 🙂

O que você aprendeu até aqui?

Explorar a linha tênue entre ócio criativo, procrastinação (agendada ou não) ou descanso – dentro de uma rotina criativa pode ajudar a nossa criatividade e até aumentar a produtividade.

Neste artigo, expliquei que o “nome” que se dá a essa pausa pode ser entendido pela intenção que cada pessoa tem ao fazer cada um deles. Também vale pensar qual é o sentimento provocado quando você faz uma parada no projeto em que você está trabalhando. Não há resposta certa e aqui vale aquela velha máxima: se observe e entenda como isso flui para você 🙂

Equilibrar o tempo de criação com momentos de pausa estratégica pode ser desafiador, mas há maneiras de incorporar o ócio criativo e/ou o descanso produtivo à rotina. Desconectar-se digitalmente, fazer passeios sem destino, dedicar-se à leitura sem pressa e explorar jogos criativos são apenas algumas estratégias para nutrir nossa criatividade e relaxar a mente.

Ao compreender a intenção por trás de cada pausa e refletir sobre seus efeitos em nossa criatividade, podemos transformar o tempo em nosso aliado, cultivando um processo criativo mais leve e fluido.

Se você ficou animado para tirar seus projetos do papel e curte aprender de forma visual e botando a mão na massa, considere conhecer um sistema simples que pode te ajudar a destravar sua criatividade e lidar com o bloqueio criativo 🙂

Destrave sua criatividade com o Criatividade Sem Bloqueio

Tiago, criador do Criatividade Sem Bloqueio e fundador do Tira do papel.

Eu crio reflexões visuais que ajudam pessoas a começar (e continuar) a praticar sua criatividade sem pirar no processo.

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