Você até se considera uma pessoa criativa, mas sente que no momento sua criatividade está bloqueada pela procrastinação, perfeccionismo e medo do julgamento alheio? Já identificou que esses fatores impedem sua forma de criar?
Resolvi falar sobre esse tema de uma forma simples e trazer algumas maneiras práticas para você ter mais ideias, sair do óbvio e, de quebra, manter uma relação mais leve com a criação.
É muito importante pensar que a criatividade é algo transversal em nossa vida. Pode ter a ver com um jeito diferente de apresentar uma reunião, mudar o caminho de casa até o trabalho, preencher um espaço em sua sala. Ou seja, é uma questão de trocar a lente da observação e mudar de perspectiva.
Vamos entender mais?
O que é criatividade?
Criatividade significa basicamente combinar ideias para solucionar problemas ou expressar o que sentimos e pensamos. Uma espécie de colagem de pensamentos e elementos para que algo novo possa surgir.
Para o escritor e artista Austin Kleon, “criatividade não é mágica, criatividade é para todo mundo. Você é uma mistura do que você deixa entrar na sua vida. E qualquer pessoa pode ser criativa se você se cercar pelas influências e praticar”.
Dessa forma, uma ideia criativa nada mais é do que uma mistura entre curiosidade, imaginação e “fazeção” para a busca de respostas.
E não nasce do nada. Aliás, nada nasce do nada 🙂
Segundo especialistas da Universidade Harvard, por trás da aparente “folha em branco” existe uma combinação do repertório de experiências e conhecimento acumulado de cada pessoa, que fazem toda a diferença para o aparecimento de uma novidade.
Para Mauro Muszkat, neuropediatra e professor da Unifesp, a criatividade é capaz de despertar novas conexões entre diversas áreas da mente, o que contribui para a formação de redes neurais e de memória.
Outro conceito que eu gosto de incentivar quando se trata de criatividade é: conheça as regras e queira dobrá-las. Uma das formas mais divertidas de criar é questionar alguns padrões que foram cristalizados como normais e passaram a ser convencionados como regras ou fórmulas.
Muita gente acredita que a criatividade é um dom natural, reservada a pessoas excepcionais. Estudos como o da pesquisadora de ciências cognitivas da Universidade de Sussex Margaret Boden apontam que todo ser humano pode ser criativo e que a criatividade é manifestada em diferentes níveis. E, a melhor parte: pode ser estimulada.
A relação entre criatividade e inovação
Para relacionar criatividade e inovação, é preciso pensar no conceito de experimentação. E lembrar que a prática experimental é inversa ao controle e o medo de “perder tempo”.
Uma prática criativa e inovadora está ligada a, simplesmente, testar. Ter momentos de experimentação constantes é importante para desvendar mundos, conseguir oportunidades e até manter o autocuidado.
Você conhece alguém que tem medo de começar a criar quando não sabe e-xa-ta-men-te o que vai fazer? Só que existem ideias que apenas podem ser encontradas ao “botar a mão na massa” e também pela eliminação – quer dizer, descobrindo, na prática, a razão pela qual algumas coisas não deram certo e informar as suas futuras hipóteses com os aprendizados desses experimentos 🙂
Muitas descobertas por experimentação costumam estar ligadas aos momentos em que estamos divergindo e pensando em ideias sem focar na viabilidade ou qualidade delas. Essa fase é bem diferente do momento de convergir, onde costumamos ser mais racionais e priorizar a qualidade e pensar em como experimentá-las.
Isso também nos ajuda a ressignificar os deslizes que acontecem durante o processo criativo. Em vez de enxergar os nossos erros como “falhas”, por que não focar nos aprendizados que surgiram por eles? Tudo isso entra para o nosso repertório e pode ser usado em futuros projetos.
A experimentação não precisa priorizar a performance do resultado final, mas em “como” fazer. Isso pode gerar novas conexões, insights para outras atividades, criação de novas frentes de trabalho etc.
Assim, quando botamos o nosso repertório para fora, mesmo sem controle do resultado, e misturamos com o que já existe, podemos inovar. Afinal, a combinação dos nossos interesses, habilidades e gostos levam a gente para lugares únicos 🙂
Maneiras de desenvolver seu potencial criativo
Para praticar a criatividade é necessário expandir a nossa zona de conforto aos poucos. Criar faz a gente se expor e isso pode travar muita gente. Sugiro que esse processo seja feito de forma gradual, respeitando o seu ritmo, personalidade e rotina 🙂
Nem sempre é simples e raramente acontece de uma hora para outra. Por isso, acredito que é importante criar um comprometimento pessoal para inserir esse hábito na nossa vida.
Assim, conseguimos agir no curto prazo, enquanto construímos hábitos sustentáveis no longo prazo.
Outra maneira de exercitar a criatividade é manter projetos paralelos. Esse tipo de projeto pode potencializar a sua criatividade. Importante: não precisa ter utilidade, como aprendi neste artigo (em inglês).
Também é legal lembrar que quebrar uma crença comum sobre determinado assunto e aliar esse resultado a uma hipótese diferente pode trazer um tchã para aquela criação!
Aqui embaixo a gente vai explorar 5 formas de você destravar esse potencial criativo.
5 exercícios para uma pessoa se tornar mais criativa
Separei alguns exercícios muito simples, que podem ser feitos pelo criativo iniciante ao avançado, para estimular sua criatividade:
1) Crie cenários fictícios para refletir sobre a sua realidade
Neste exercício criativo você vai distorcer a realidade, criando situações improváveis ou mesmo levantando uma série de perguntas sobre algum ambiente, lugar ou outra coisa que tenha a ver com o seu mundo.
Exemplo: e se existisse um app mágico em que você pudesse apontar a câmera para alguma criação e ele mostrasse todo o processo criativo até chegar até ali?
O que está por trás disso: a ideia de que toda criação passa por um processo criativo, muitas vezes de muito “refazimento”, e que a criatividade não é um dom. Nem sempre percebemos isso por não termos acesso a esse caminho prévio.
Trazendo para a realidade: se a gente pudesse acessar os rascunhos, os processos de uma criação que admiramos, será que nos julgaríamos menos? A partir dessa simulação e com a ajuda de associações, podemos voltar à realidade com perguntas, reflexões e até conclusões.
Você pode conferir a explicação completa desse exercício na íntegra na aula acima. Inclusive, ela faz parte do meu curso Criatividade Sem Bloqueio 🙂
2) Escolha ferramentas mágicas para momentos de bloqueio
Primeiramente, escolha uma ferramenta para criar. Pode ser uma caneta, um lápis, uma tesoura, qualquer coisa. Depois, use uma fita adesiva para definir a restrição criativa (regrinha de criação) dela.
Exemplos: uma caneta para escrever sobre cenários fictícios, um lápis para desenhar de olhos fechados, uma tesoura para fazer colagens apenas com fotos de revista, entre outras.
Guarde essas ferramentas mágicas para serem usadas em momentos de bloqueio criativo. Rolou bloqueio? Abre o compartimento onde elas estão, pegue aleatoriamente uma ferramenta e use de acordo com a regrinha que você criou para cada uma delas.
3) Experimente o jogo de restrições criativas
Esse é um exercício bastante divertido 🙂 Invente um jogo onde você precisa criar apenas com o que você tem hoje: seu conhecimento, suas ferramentas e habilidades.
Usar restrições criativas no seu processo de criação inclui pensar: de que forma eu posso falar sobre tal assunto com tal ferramenta, ou de tal forma? Exemplo: como falar sobre finanças pessoais (tema) usando desenho (ferramenta), ou: como falar vinho misturando o tema com o meu interesse em viagens e habilidades de fotografia?
Essa restrição também pode ser de tempo (apenas 10 minutos), espaço (apenas X caracteres), materiais (apenas com peças de montar). A restrição não é uma limitação, mas uma maneira de ampliar os caminhos com os quais você pode criar.
A ideia é que objetivamente ou subjetivamente seu cérebro amplifique a atenção para cumprir esse desafio e chegue a combinações que você (e outras pessoas) talvez nunca tenha pensado. Inclusive, isso pode te ajudar a desenvolver o seu estilo autoral, sua voz criativa. Expliquei mais sobre esse exercício no vídeo abaixo.
4) Observe as suas restrições favoritas
Esse exercício consiste em pensar com quais limitações criativas você mais gostou de criar até hoje. Quais estão mais presentes na sua vida e lhe são familiares? Essa resposta ajuda a identificar que tipo de criativo você é.
Preste atenção em projetos que você já criou e se pergunte como ele foi feito, como um passo a passo mesmo. Vale também contar para outras pessoas, como uma narrativa, para ficar mais fácil identificar esse padrão.
Isso pode fazer com que você entenda qual é a maneira mais confortável para desenvolver seus processos criativos. Não se trata de automatizar sua criatividade, mas, sim, estabelecer sistemas e processos que podem te ajudar a criar de uma forma bem “você” 🙂
Essa racionalização do que é apenas intuitivo – sua maneira de criar e passo a passo – pode ser muito útil nos momentos de bloqueio criativo, ou quando imprevistos acontecem e você precisa criar em menos tempo.
5) Separe um tempo da sua semana para experimentar
Vale conectar a um hábito que você já tem (exemplo: parar 15 minutinhos para tomar chá depois do trabalho) ou um período de um dia fixo (como domingo à tarde). A única regrinha é que você utilize esse espaço de tempo exclusivamente para experimentar. Esse processo pode ser documentado e mostrado para outras pessoas ou guardado só para você.
Você pode desenhar, reunir referências, fazer colagens, começar um hobby novo, qualquer coisa. Desde que seu único intuito seja a experimentação – sem compromisso com performance ou preocupação com o resultado final.
Como praticar sua criatividade no dia a dia
Desenvolver sua criatividade não é um processo sempre divertido ou linear. Identificar e refletir sobre as nossas travas e inseguranças nos ajuda a navegar os momentos de incerteza, que vez ou outra teimam em aparecer.
Não se cobre para ter um fluxo criativo perfeito. Até porque isso nem existe. Tenha empatia pelos próprios erros e reconheça seus progressos, assim como você faz com o processo de aprendizagem e criação de outras pessoas.
Seguir lendo e acompanhando reflexões sobre criatividade também pode ajudar na manutenção desse hábito. Há muitos conteúdos interessantes sobre criatividade, incluindo o meu livro e a minha newsletter – um espaço com reflexões curtas sobre criatividade, respeitando sua saúde mental.
O que você aprendeu até aqui
Neste artigo, entendemos mais sobre o conceito de criatividade e conhecemos alguns exercícios para desenvolvê-la no dia a dia. Como vimos, a criatividade é uma combinação de repertório e da prática criativa.
A prática criativa está relacionada à experimentação constante, permitindo descobertas ao tirar ideias do papel. Eu também mostrei cinco exercícios simples para estimular a criatividade, incluindo a utilização de ferramentas específicas em momentos de bloqueio e experimentação de jogos com restrições criativas.
Você também aprendeu conceitos para desenvolver o potencial criativo, como expandir aos poucos a sua zona de conforto, criar compromisso com a criatividade, manter projetos paralelos e quebrar crenças comuns sobre determinados assuntos.
E se você quiser meu acompanhamento nesse processo de experimentação, aprendendo visualmente e botando a mão na massa, vem conhecer o Criatividade sem Bloqueio 🙂