Começo esta reflexão deixando uma opinião bem clara sobre a comparação: eu não acredito que alguém consiga simplesmente parar de se comparar.
Não só porque vivemos hiperconectados nas redes sociais, onde é normal mostrar recortes da sua vida, conquistas e até mesmo suas fotos mais bonitas, mas principalmente porque a comparação é inseparável da natureza humana, é por meio dela que a gente observa padrões e entende o mundo.
Portanto, ao invés de tentar não se comparar, quero sugerir que você aproveite esses estímulos que são processados durante a comparação para pensar de forma mais produtiva sobre o seu processo criativo.
Vamos entender o que acontece no nosso cérebro quando nos comparamos, refletir sobre a comparação produtiva e conhecer algumas estratégias para ressignificar a comparação nas nossas vidas.
Vamos juntos?
Por que nos comparamos?
Essa resposta está ligada à nossa biologia e história evolutiva. Desde os primórdios da humanidade, as comparações foram essenciais para nossa sobrevivência e adaptação ao ambiente.
É importante entender que o nosso cérebro processa o mundo por meio de comparações. Estamos sempre nos comparando e diferenciando informações para formar nossa percepção e tomar decisões.
Ao observar, por exemplo, se um objeto é maior que o outro, se uma ferramenta é mais pontiaguda que outra, ou mesmo ao comparar o desempenho de diferentes estratégias de caça ou colheita, estamos utilizando a comparação para descobrir padrões e tirar nossas próprias conclusões.
Essa capacidade de relativizar uma coisa a partir de outra não só nos ajuda a compreender o mundo, mas também possibilita que continuemos evoluindo. Ao comparar o que fazemos com a forma com que os outros fazem, podemos identificar pontos de melhoria, aprender novas habilidades e buscar novas formas de alcançar nossos objetivos.
No entanto, apesar de ser um processo natural e útil, a comparação pode se tornar prejudicial quando começa a criar um ciclo de desmotivação, nos paralisa e nos desconecta da nossa própria jornada. Assim, ela deixa de ser uma ferramenta de crescimento pessoal e pode até se transformar em bloqueio criativo.
Diga adeus à comparação (será que dá?)
Como já expliquei, acho quase impossível dar adeus à comparação, afinal, ela está profundamente ligada à forma como percebemos o mundo ao nosso redor.
Além disso, rolando o feed, temos a sensação de que todo mundo está viajando, recebendo prêmios ou aproveitando suas vidas, enquanto nós enfrentamos os problemas da rotina. Mas essa é uma interpretação distorcida dos dados, já que esses recortes publicados nunca representam a totalidade da vida de todas as outras pessoas.
Acredito que ao invés de tentar dar adeus à comparação, o caminho é entender como interpretar esses estímulos de forma saudável para praticar e expandir nossa criatividade.
Continue a leitura para entender mais 🙂
3 princípios para ressignificar a comparação
Quero falar sobre três princípios fundamentais que têm me ensinado a lidar melhor com a comparação. Espero que eles te ajudem também. 😉
1) A comparação não é um botão que pode ser desligado
O primeiro princípio é uma fundação dos outros dois. A comparação não é um botão mágico que pode ser apertado para ser desligado. Principalmente por estarmos tão ligados nas redes sociais, que amplificam as relações humanas em muitas formas, a comparação é potencializada nos dias de hoje.
Nunca houve na história tanto consumo de informação e, portanto, tantos estímulos para gerar não apenas comparação, mas inveja, ansiedade e até FOMO (em inglês, fear of missing out, ou o medo de estar perdendo alguma coisa).
É como se estivéssemos sempre atrasados ou inadequados diante dos demais.
Por isso, não se culpe, é quase impossível se esquivar dessas coisas ativamente, pois não é um processo que simplesmente deixa de acontecer porque queremos.
O que podemos pensar é como interpretar os dados que surgem na comparação de uma forma mais realista e saudável, sem que ela nos prejudique.
2) Tudo que nós vemos é uma perspectiva e não verdade – ou a regrinha do infográfico
Pense em um infográfico. Pode ser qualquer um, desde o mais básico até o mais lúdico, como esses da jornalista de dados e ilustradora britânica Mona Chalabi.
Bom, para fazer um infográfico, é preciso ter à mão um apanhado completo de informações para representar graficamente qualquer história de forma correta.
Por meio do infográfico e suas informações-base, podemos comprovar ou reforçar as suposições apresentadas no título desse material, certo?
Mas quando nos comparamos, nós não temos todos os dados da “pessoa com quem nos comparamos” para fazer uma representação justa. E quando não temos essas informações, nós preenchemos as lacunas com as nossas próprias projeções e suposições.
Resgatando uma frase do imperador romano Marco Aurélio sobre esse nó que se forma a partir daí: “tudo o que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva, não a verdade”.
Se acompanhamos alguém do nosso círculo social, com as mesmas condições financeiras que a gente, por exemplo, desfrutando de um lugar pouco acessível, nos perguntamos como ela pode ter conseguido esse dinheiro.
Aí criamos uma série de especulações, muito porque temos a tendência de projetar nossa própria realidade naquela lacuna de informações que não temos da pessoa.
Quando isso acontece, eu aplico a regra do infográfico – e procuro me lembrar que eu não tenho todos os dados sobre aquela realidade com a qual estou me comparando.
A partir dessa regrinha, entendemos que só temos acesso às nossas variáveis e não aos dados daquela pessoa em sua totalidade, portanto, qualquer comparação será injusta.
3) Podemos nos desmotivar ou nos inspirar a partir da comparação
Como já expliquei aqui, a comparação pode ser um dos gatilhos para a frustração. Principalmente porque a gente tende a comparar a nossa vida (com todas as suas imperfeições) com o recorte dos melhores momentos da vida de outras pessoas, já que esse é o pequeno retrato que nos chega pelas redes sociais.
Mas se a comparação é inevitável, vamos entender como processar os “dados” que a gente coleta na comparação de uma forma mais saudável e inspiradora? 🙂
Bom, diante das informações adquiridas com a comparação, podemos seguir dois caminhos. Ou nos desmotivamos por não termos aquilo que nos é apresentado ou nos inspiramos nas realizações e sucessos dos outros como fonte de inspiração e motivação para expandir a criatividade.
Por exemplo, ao ver o trabalho de um artista que admiramos nas redes sociais, podemos tentar explorar novas técnicas ou abordagens nos nossos próprios processos artísticos.
Esse viés mais produtivo e saudável da comparação impulsiona nossa criatividade, incentivando-nos a expandir nossos horizontes e desenvolver nossas habilidades.
Outro caminho muito produtivo para explorar a comparação é não focar essa perspectiva nos outros, mas na gente mesmo em tempos passados. Gosto particularmente de comparar meus processos atuais com os do Tiago de um mês atrás, um ano atrás, ou dez anos atrás…
E para isso sugiro o seguinte: que tal esquecer as métricas atuais para medir o sucesso: número de seguidores, curtidas, assinantes, renda mensal – e criar formas mais criativas de realizar essa comparação e documentar essa evolução?
Navegar a comparação de forma mais justa e “humanizada”, você pode tentar comparar as mesmas métricas para comparar seu progresso com o de pessoas que te inspiram. Essa criação de hábitos saudáveis para medir inspiração e referência nos impede de paralisar nosso próprio processo e também evita que a gente crie bloqueios para nossa criatividade.
Um bônus:
É natural depois de ler um texto como esse aqui que você ache que essa desconstrução da comparação seja um processo simples. Mas ele pode levar um tempinho. Da mesma forma que “sair” da zona de conforto, lidar com as comparações de uma forma produtiva está mais parecido com uma expansão gradual, algo não linear.
O que você aprendeu até aqui?
É praticamente impossível evitar a comparação, já que é por meio de padrões e perspectivas entre diferentes objetos e situações que compreendemos o mundo. Neste texto, aprendemos que em vez de resistirmos ao hábito de se comparar, podemos aprender a ressignificá-lo de maneira produtiva.
Podemos transformar a comparação em uma fonte de inspiração e motivação para expandir nossa criatividade. Apresentei três princípios que me ajudam a lidar com a comparação de uma forma mais realista.
O primeiro mostra que a comparação não é um interruptor que pode ser simplesmente desligado. Mas é importante interpretar os dados da comparação de maneira realista e saudável, sem permitir que nos prejudiquem.
O segundo explora a ideia de que tudo o que percebemos é uma perspectiva, não a verdade absoluta. Ao nos compararmos, muitas vezes não temos as informações completas, preenchendo as lacunas com nossas próprias suposições. A regra do infográfico lembra que essas suposições podem gerar comparações injustas e irracionais.
O terceiro princípio para ressignificar a comparação explica que ela pode nos desmotivar ou inspirar, dependendo de como a abordamos. Podemos transformar essa prática em uma fonte de motivação e crescimento, ao invés de permitir que ela nos paralise. Embora não seja automático, lidar com a comparação pode ajudar a expandir a nossa criatividade.
Se você ficou animado para tirar seus projetos do papel e curte aprender de forma visual e botando a mão na massa, quero te convidar a conhecer um sistema simples para destravar sua criatividade e vencer o bloqueio criativo.
Destrave e pratique a sua criatividade com o Criatividade Sem Bloqueio 🐢