Muita gente acredita que uma pessoa criativa tem ideias maravilhosas do nada e que, já no primeiro rascunho, consegue apresentar ao mundo uma criação pronta e disruptiva, desenvolvida quase que num passe de mágica.
Mas as criações que mais nos inspiram não nasceram na versão que conhecemos. Elas passaram por inúmeras refações e podem ter começado em um rascunho despretensioso.
E se criatividade não é um dom, a questão é: como desenvolver ideias criativas no dia a dia, estimular o seu processo criativo e fugir dos bloqueios?
Vamos mergulhar nisso para viver uma vida mais criativa? 🙂
Como desenvolver hábitos que estimulam a criatividade
Especialistas recomendam alguns hábitos simples para você ter ideias criativas, como: relaxar, praticar a meditação, estar em contato com a natureza, ou mudar o caminho de volta para casa sempre que possível.
Embora sejam dicas legais para estimular a criatividade, elas não são tão práticas para quem quer começar. Por isso, neste artigo preparei alguns exercícios para que a pessoa possa experimentar “botando a mão na massa”.
Importante lembrar que qualquer hábito para estimular a criatividade seja inserido na rotina de forma gradual, respeitando seu ritmo e contexto.
Exemplo: se sua semana permite que você faça esses exercícios uma vez na semana, ótimo! Não se compare com alguém que pode fazer sete vezes por semana – lembre-se: é uma outra pessoa, com outro contexto.
Antes dos exercícios, é preciso entender um desafio que muitas pessoas enfrentam quando vão começar a criar qualquer coisa: o bloqueio criativo, que anda de mãos dadas com o perfeccionismo e o medo do julgamento, o que pode prejudicar o surgimento de ideias criativas.
No próximo tópico, vamos nos aprofundar um pouco mais nisso.
De que forma equilibrar perfeccionismo e criatividade
O perfeccionismo pode ser entendido como uma necessidade excessiva de ser ou parecer perfeito. Só que essa busca pela perfeição ou por agradar todo mundo é bastante utópica, já que pessoas diferentes percebem e interpretam cada criação do seu jeito.
A perfeição unânime não existe.
Ao racionalizar a noção do perfeito, entendemos que é impossível agradar todo mundo e evitar ser alvo de críticas está absolutamente fora de controle.
Mas o que isso tem a ver com a criatividade?
Nossa jornada criativa é construída conforme movemos nossas ideias da imaginação – onde tudo é perfeito, porém não é materializado – para a realidade vulnerável – em que existe exposição e julgamento.
Para refletirmos sobre a relação entre perfeccionismo e criatividade, é importante ressignificar sobre o que significa botar o “ponto final” em um projeto.
O ponto final, ou seja, o momento em que decidimos que uma ideia está pronta para vir ao mundo não significa que ela é boa o suficiente para alcançar a perfeição unânime.
Significa que ela passou a existir. E, assim, foi capaz de permitir que novas conversas sejam iniciadas e que, potencialmente, pessoas sejam inspiradas e novas conexões (e oportunidades) possam ser criadas a partir dela.
É importante encarar o ponto final como um gesto de coragem. O projeto foi finalizado mesmo com a consciência de que, com o tempo, ele ficaria melhor. Afinal, estamos adquirindo mais repertório, mais conhecimento e novas formas de aperfeiçoá-lo.
Um exemplo prático: quando um escritor publica um livro, mesmo que ele tenha passado por revisões e reescritas, a obra apresenta o conhecimento e ferramentas que o autor possuía naquele momento.
Caso escrevesse por mais 20 anos, é claro que esse livro seria uma outra publicação, com mais experiência, vocabulário e bagagem.
Porém, é preciso entender que, mesmo que não agrade 100% das pessoas (o que é impossível), aquela obra abre espaço para novas conexões e oportunidades. E também, para que novas ideias possam ser tiradas do papel 🙂
Já entendemos que finalizar um projeto e enfrentar o perfeccionismo exige coragem, uma vez que passa por combinar nossas referências e inspirações para expor nossas criações para o mundo.
E você pode estar se perguntando: de que forma posso ampliar meu repertório para ter mais ideias criativas daqui em diante?
Onde encontrar inspiração para suas ideias criativas
Antes de avançarmos, eu preciso te dizer que a inspiração é uma espécie de “turbo” criativo que podemos encontrar em qualquer lugar. Ela pode surgir das experiências mais aleatórias e, mesmo sem querer, ampliar suas possibilidades de criação quando são combinadas com o seu repertório.
Por isso, uma alternativa para sair do óbvio e destravar a sua criatividade é pensar como podemos ativar esse “turbo” com mais frequência 🙂
Estar aberto para novas experiências é importante para isso. Se você sempre usa as mesmas fontes de pesquisa, considere transformar o seu olhar: vale pensar em conhecer sites, testar um novo aplicativo, ler biografias e até visitar um museu que você nunca foi antes.
Tudo o que entra influencia o que sai.
No vídeo abaixo eu explico visualmente como você pode ter ideias mais criativas com uma combinação improvável entre plantas, peças de Lego e uma reflexão sobre a jornada criativa de um dos meus artistas favoritos.
4 maneiras de desenvolver ideias criativas
Antes de mais nada, é preciso entender que o processo criativo é feito de muita coisa inacabada.
O ciclo criativo de toda ideia possui uma linha do tempo bastante diversa. O que isso quer dizer? Você pode ter uma ideia hoje que não necessariamente vai se desenvolver de imediato. No entanto, amanhã você pode ter outra sacada que pode se transformar em um projeto de forma muito mais rápida.
É claro que estamos falando de um contexto de criatividade em que não há um compromisso com o prazo. Nesses casos, ter comprometimento e seguir um cronograma é fundamental.
Porém, numa criação mais livre, a primeira sacada é: não se prenda ao tempo de desenvolvimento de cada ideia. Às vezes é preciso deixar um projeto marinando até que sejam criadas novas conexões e caminhos 🙂
Independentemente de ser uma criação mais intuitiva ou com prazo estabelecido, separei pra você quatro maneiras de desenvolver ideias criativas no seu dia a dia:
1) Tire a versão 1 do seu pensamento
Voltando ao início do artigo, quero recuperar aqui a ideia de que nenhuma grande ideia nasce pronta. Muitas vezes, estamos em contato com uma versão revisada e refeita de um primeiro “rascunho”.
Este primeiro caminho consiste em olhar com mais carinho para as primeiras versões de qualquer coisa. Sabe aquele insight que está na sua cabeça que você considera inacabado e por isso não dá muita atenção?
Exteriorize essa ideia, intuição ou rascunho em algum lugar. Pode ser em um caderno, num post-it na parede, naquele aplicativo em que você reúne as suas notas ou até em um jardim digital.
O mais importante é tirá-lo da sua cabeça, para que ele tenha condições de ser refinado e amadurecido. E também para combater esse pré-julgamento e perfeccionismo que temos com ideias aparentemente não tão boas 🙂
2) Revisite ideias e processos antigos
A partir do momento em que você começa a exteriorizar a primeira versão das suas ideias, há um repertório em que você pode consultar e refinar suas criações.
É bem possível que você tenha rascunhos de projetos ou ideias guardadas, que podem ser revisitadas e se transformar em outra coisa.
Armazenar e movimentar essas ideias antigas é uma maneira de alimentar com sementinhas (sejam elas referências, palavras, imagens) seus processos criativos e permitir que você revisite ideias antigas com a mentalidade do presente, aliando as novas referências novas que entraram no seu repertório.
3) Comece independentemente das suas ferramentas
Você já pensou em iniciar um canal no YouTube sobre um assunto que você ama, mas desanimou porque não tem uma câmera profissional? Ou quer começar um jardim de apartamento, mas não tem todos aqueles equipamentos que você vê nos reels do Instagram?
O nosso ambiente e o que temos à disposição neste momento pode ser um norte para você criar. Uma história bem contada, contada do nosso jeito, pode ser mais interessante do que qualquer limitação estética ou de ferramenta.
Ter ideias criativas ou começar um processo criativo não é algo passivo, mas um caminho que se descobre fazendo. Por isso, ao respeitar nossas limitações, podemos chegar a lugares novos e entender como fazer as coisas do nosso jeito.
Travas e restrições – de ferramentas, de ambiente ou até de conhecimento – podem ser indicativos do caminho que podemos seguir para desenvolver nosso estilo e voz autoral.
4) Questione expectativas e ferramentas
Aqui a ideia é brincar com a quebra de expectativas. A primeira pergunta a se fazer é relacionada a uma experiência. Um exemplo: entrar no LinkedIn. A partir daí, pergunte-se o que as pessoas geralmente esperam ao acessar esse ambiente e como você pode apresentar algo totalmente diferente.
Isso também pode ser feito pensando na função de algumas ferramentas.
Um exemplo: um lápis. Como esse objeto costuma ser usado? Quais são as possibilidades improváveis de utilização e como você pode criar qualquer coisa com ele, desde que não seja dessa forma padrão.
A ideia é surpreender quebrando um padrão. Algo que faça sentido para o seu contexto de criação, expandindo sua criatividade e ressignificando as ferramentas utilizadas para isso.
Essas são algumas maneiras de estimular sua criatividade e desenvolver ideias mais criativas, mas lembre-se que há muitas outras formas de se manter criativo, o que também inclui alguns desafios.
Quais são os desafios para se manter criativo
Todo processo criativo envolve um certo caos – aquele momento em que “jogamos” as ideias para fora (ou exteriorizamos, como vimos aqui), de forma desordenada.
Também existe um processo de “ordenação”, em que as ideias que foram “jogadas” podem ser filtradas, refinadas ou abandonadas antes de chegar ao momento em que elas são compartilhadas.
O principal é entender que essas etapas não são lineares, mas sim, cíclicas, uma vez que podem oscilar, se sobrepor. Por isso, pedem que estejamos conscientes de qual é a prioridade naquele momento do processo: gerar mais ideias sem julgar (focando em quantidade), ou de refinar as ideias (focando em qualidade).
É como se cada etapa exigisse uma mudança de lente, de perspectiva, para priorizar o que é mais importante: criar, filtrar, apresentar ao mundo, entre outros momentos.
A fase em que criamos é a mais caótica, pois geramos ideias sem focar em qualidade, o que pode assustar. Principalmente, porque a tendência é se comparar durante o processo. Só que comparamos nosso primeiro rascunho com aquela criação linda e refinada que nos inspirou, o que pode nos bloquear.
Um grande desafio é lidar com essa incerteza do processo criativo, especialmente nos momentos em que tudo parece bagunçado, incerto, caótico (muitas vezes pq ainda nao foi editado e refinada)
No vídeo abaixo, apresentei uma solução para lidar com esse desafio e conhecer essas diferentes etapas em um processo criativo.
O que você aprendeu até aqui
Desenvolver ideias criativas não é um dom, mas algo que pode ser praticado. Como vimos, existem hábitos que podem estimular a criatividade, ajudar a fugir do óbvio e inovar.
Também entendemos mais sobre a relação entre perfeccionismo e criatividade e falamos sobre a importância do ponto final para criar novas conexões e oportunidades a partir dos seus projetos.
Além de explicar onde encontrar inspiração para suas ideias criativas, mostrei 4 formas de destravar sua criatividade, lembrando que cada processo possui uma linha do tempo própria.
Exteriorizar suas primeiras versões, revisitar processos antigos, enxergar as suas restrições criativas como um norte para desenvolver o seu estilo autoral e questionar expectativas e ferramentas são alguns desses caminhos.
Que tal desenvolver ideias criativas com exemplos práticos e visuais? Se você gosta de botar a mão na massa e aprender com explicações visuais, considere conhecer o Criatividade Sem Bloqueio! Eu acho que você vai adorar 🙂